Como poderia sentir-me infeliz
se tenho ao meu redor
ouvidos que escutam minhas lamúrias,
lábios que dizem palavras de conforto,
mãos que seguram minhas mãos,
ombros que me permitem chorar!
Obrigado, Senhor,
por ter colocado no meu caminho
pessoas maravilhosas como você!
Para você
que me aceita como sou,
que tolera meus vícios,
que perdoa minhas falhas,
que compartilha minhas dores
aceite o meu obrigado
e este ramo de flores!
A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto, a mais fácil. Por que seria? Há prazeres difíceis ou raros, que nem por isso são menos agradáveis.
Talvez sejam até mais. No caso da gratidão, todavia, a satisfação surpreende menos que a dificuldade. Quem não prefere receber um presente a um tapa? Agradecer a perdoar? A gratidão é um segundo prazer, que prolonga um primeiro, como um eco de alegria a alegria sentida, como uma felicidade a mais para um mar de felicidade. O que há de mais simples? Prazer de receber, alegria de ser alegre: gratidão. O fato de ela ser uma virtude, porém, basta para mostrar que ela não é óbvia, que podemos merecer de gratidão e que, por conseguinte, há mérito, apesar do prazer ou, talvez, por causa dele, em senti-la. Mas por quê? A gratidão é um mistério, não pelo prazer que temos com ela, mas pelo obstáculo que com ela vencemos. É a mais agradável das virtudes, e o mais virtuoso dos prazeres.
Objetar-me-ão a generosidade: prazer de oferecer, diz-se… O fato de ser um argumento do Marketing publicitário deve, porém, nos deixar vigilantes. Se fosse agradável dar, acaso teríamos necessidade dos publicitários para pensar nisso? Se a generosidade fosse um prazer, ou antes, se fosse apenas um prazer, ou, sobretudo um prazer, será que ela nos faltaria a esse ponto? Não se dá sem perda, por isso a generosidade se opõe ao egoísmo, e o supera. Mas e receber? A gratidão não nos tira nada, ela é dom em troca, mas sem perda e quase sem objeto. A gratidão nada tem a dar, além do prazer de ter recebido. Que virtude mais leve, mais luminosa, diríamos mais mozartiana, e não apenas porque Mozart nos inspira essa virtude, mas porque a canta, porque a encarna, porque há nele essa alegria, esse reconhecimento desvairado por sabe-se lá o que, por tudo, essa generosidade da gratidão, sim, que virtude mais feliz e mais humilde, que graça mais fácil e mais necessária do que ser grato a uma Pessoa que um dia fez parte do meu quadro de amigos, justamente, com um sorriso ou um passo de dança, com um canto ou uma felicidade? Generosidade da gratidão…
Esta última expressão, que devo a algum amigo (a), esclarece-me: E me faz sentir grato pela vida, se a gratidão nos falta com tanta freqüência, não será, de novo, mais por incapacidade de dar do que de receber, mais por egoísmo do que por insensibilidade? Agradecer é dar; ser grato é dividir. Esse prazer que devo a você não é apenas para mim. Essa alegria é a nossa. Essa felicidade é a nossa. O egoísta pode regozijar-se em receber. Mas seu regozijo é seu bem, que ele guarda só para si. Ou, se o mostra, é mais para fazer invejosos do que felizes: ele exibe seu prazer, mas é o prazer dele. Já esqueceu que outros têm algo a ver com isso. A gratidão é esse reconhecimento que tenho pelos amigos, de fato, retribui com o agradecimento, porque eu gosto de todos os momentos que passo com meus amigos sou apenas grato. O que a gratidão de um amigo me passou? Ela dá a si mesma: como um eco de alegria, dizia eu, pelo que ela é amor, pelo que ela é partilha, pelo que ela é dom. É prazer somado ao prazer, felicidade somada à felicidade, gratidão somada à generosidade. Nós absorvemos a alegria como outros absorvem a luz.
“A amizade conduz sua dança ao redor do mundo”, “convidando todos nós a despertar para dar graças”.Obrigado por existir, dizem um ao outro, e ao mundo, e ao universo.
TANTOS SIGNIFICADOS
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