O princípio de tudo é o beijo.
Siga as linhas do contorno dos lábios da pessoa que você quer. É a forma mais íntima. A língua na sua boca.
Daí explode a supernova. O big bang. O cartão de visitas é entregue.
Você pode fazer sexo com uma pessoa e não ser tão íntimo! Você pode romper tabus com essa pessoa, satisfazer o seu desejo, mais depravado, colocar sua libido à mostra, como uma cicatriz e nem assim seria tão íntimo. Você pode gozar aos gritos e isso não provará nada.
O beijo é a profundeza do sentimento fazendo você chafurdar, onde tudo começa, onde parte todos os movimentos em seus carros velozes correndo por avenidas sem fim. Onde mãos aprendem como devem agir. Onde o acelerador é cada vez mais apertado no piso do seu carro. O motor exigindo a próxima marcha.
É sua marca. Nenhuma pessoa é igual à outra; nenhum beijo também. Cada pessoa tem sua “pegada”, um cheiro misturado ao seu perfume que se modifica. A famosa química. E ela pode demorar surgir. Pode se prolongar mesmo quando os carbonos perfeitos já estão unidos. Estão friccionando outras bases. Emergindo de outros sais. São marcas registradas, rótulos colocados nas línguas. E mesmo assim você pode deixar um decalque ruim, ilegível.
O sexo através do beijo. A língüa indo pelo corpo, beijando os seios, os mamilos, o peito, as costas, a nuca, o pescoço, as coxas, virilhas, as nádegas, o sexo. A língüa sendo o agente da ação. Introduzindo, lubrificando, facilitando, conhecendo. A ação, o beijo. O início, o meio e o fim e se repetindo.
Você pode distribuir muitos cartões de visitas por ai. Recebê-los de volta com agradecimentos. Entretanto a química borbulha, em seus frascos, os corpos que são importantes, melhor ainda, quem é importante.
Por causa desse seu beijo, você ainda pensa, sozinho, numa boca especial que você conhece. E não se incomoda em lançar ao vento muitos cartões. E se lembra das bocas marcantes, das mordidas, e quando pode, fecha os olhos dentro de uma só.
Pode ser que considere isso uma forma ingênua e romântica de ver (ou viver) as situações da vida. Eu diria que não. O beijo e o sexo são partes do mesmo. A vida pode parecer promíscua, não se importando quanto tempo passe, as bocas continuarão se tocando, iniciando as pessoas em seus relacionamentos mesmo quando você parou de entregar seus cartões.
E qualquer um gozará desse prazer tão singelo, com todos os músculos contraídos, de cada beijo trocado. E os cartões voarão. De cama em cama, de bar em bar. De casa em casa. Sendo frutos de um sentimento límpido ou de uma vergonha de baixo calão. Somos assim, vivendo no fio da navalha, cortando os pés a cada passada.
"Hell" Albasini "
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